Natural da Bahia, a empresária Dória Miranda passou por diversos obstáculos até se consolidar como empreendedora do ramo de moda. Vivendo na rua, passando fome e sofrendo agressões, sua história retrata a realidade de muitas pessoas trans no Brasil. Por isso, sua grande conquista é ser uma referência para outras meninas e meninos que passam por esse tipo de situação.
Miranda se assumiu como gay aos 13 anos para a mãe e aos 15 para o mundo, quando foi expulsa de casa por conta dos preconceitos do pai. “Cheguei em São Paulo sem expectativa de nada, nem de vida, mas como uma pessoa comunicativa, eu sabia que poderia mudar algo pra mim e pra outras pessoas”, conta.
Recém-chegada e vivendo na rua, Miranda começou a trabalhar como assistente de limpeza em loja de vestidos de noiva e, por ser comunicativa com as clientes, foi promovida a vendedora. Foi nessa época, aos 26 anos, que descobriu um câncer no intestino e passou por um longo tratamento que consumiu 5 anos. Cresceu na carreira, virou gerente de lojas e descobriu um segundo câncer, no ouvido. Foi quando, ao se consultar em um centro espírita, ouviu que tinha “espírito de menina”, e entendeu que uma nova vida começava.
Quando decidiu que começaria a transição, já aos 35 anos, ouviu da chefe da época que não poderia ficar no trabalho, porque a loja perderia clientes. Confiante, pediu para fazer um teste. Após o mês que recebeu como prazo, a dona da loja percebeu que nada havia mudado na movimentação da loja, pelo contrário, e resolveu premiá-la: “no meu aniversário, ela me levou para um salão e me deu de presente um megahair. Me senti maravilhosa!”, desabafa.
CARREIRA DE EMPRESÁRIA DE MODA
Em 2008, Miranda começou fazer “bicos para si mesma”, como conta, enquanto ainda trabalhava para outras pessoas. Em 2010, abriu sua primeira abriu sua primeira loja revendendo peças no Shopping Light e com a falência dos seus quiosques devido à pandemia, começou a produzir suas próprias peças. Para vender e divulgar, montou uma loja no Instagram, que fez muito sucesso e passou a vender as peças no atacado e varejo.
Ganhou mais destaque ainda em 2021, quando contou sua história para o projeto ter.a.pia, página que tem o propósito de “transformar a rotina diária de lavar louça em uma verdadeira sessão de terapia”, contando histórias inspiradoras como a de Dória. Hoje, o perfil de sua loja é seguido por mais de 100 mil pessoas e ela passou a ser vista como influenciadora do segmento de moda.
Sua marca cresceu, e hoje produz peças até o tamanho 60, contando com grade maior para algumas opções, como suas meia-calças. Ela afirma que nunca acreditou em padrões e faz roupas para mulheres reais, não importa tamanho ou idade.
Participante do Pop Plus com sua marca Dória Miranda, ela conta que construiu sua vida buscando forças em seu trabalho e acredita que todas as mulheres precisam se profissionalizar para que não haja obstáculos para elas. “Quero empoderar e inspirar mulheres reais. A gente precisa abrir nossos caminhos”.
Sobre a necessidade de se adaptar às mudanças do mercado, diz: “Eu entro por necessidade e vou me aperfeiçoar; há dois anos eu era analfabeta digital e hoje faço faculdade de marketing e gestão. Eu quero saber o motivo para fazer algo e que minha equipe também saiba”, explica.
Hoje, Miranda sabe que é uma referência de sucesso, e faz questão de contratar apenas mulheres trans e mulheres mais velhas para sua equipe. “As pessoas veem mulheres trans como garotas de programa; ou ‘com sorte’, elas dizem, como donas de salão de beleza. Fico feliz quando elas me veem onde estou, e sabem que sou ‘a travesti da internet’”, explica.