“Eu nunca me vi feia. Mesmo sendo gorda desde criança, eu sempre briguei com a visão que as pessoas tinham de mim e a que eu mesma tinha”, conta Drika Lucena, 49 anos. A professora universitária, palestrante e artista plástica foi convidada para ser a nova colunista do Pop Plus por abordar em seus trabalhos pautas como gordofobia, autoestima, amor próprio, artes e moda há mais de 20 anos.
A pesquisadora, que já participou do debate “Além do 54”, que aconteceu no Pop Plus #20 em março de 2018, da mesa “Corpo gordo na arte”, [Pop Plus #26 – setembro de 2019] e do talk “Corpo gordo na arte e na Cultura Pop“, no Festival Pop Plus em Casa em abril de 2021, conversou com a gente sobre como as pautas sobre beleza e corpos gordos estão presentes na sua carreira acadêmica e nas suas artes.
O CORPO GORDO NO MEIO ACADÊMICO
Drika conta que sempre questionou o que era “ser bonito” para as pessoas, mas foi ao ingressar na faculdade de artes que começou a questionar a questão estética e o que “beleza” significava. “Eu questionava como poderíamos olhar pessoas e corpos diversos, então esse sempre foi um debate nos meus trabalhos”.
Concluiu o curso de artes e iniciou a faculdade de publicidade, onde criou como projeto de conclusão de curso a GGNews, uma revista direcionada para o público gordo. “Isso foi em 1998. Era tudo que eu gostaria de ter dentro de uma revista convencional e não encontrava”, pontua.
Por conta da pesquisa desenvolvida para esse trabalho, passou a ter contato com publicações de fora do Brasil e acessar pautas sobre aversão ao corpo gordo, comportamento de crianças perante crianças gordas, como o mundo via o gordo na sociedade.
No ano seguinte, conseguiu criar um grande grupo de pessoas para discutir gordofobia. “O termo nem existia ainda, mas a gente já falava sobre como nossos corpos não eram comportados nos espaços. Quando questionamos o acesso às carteiras das salas de aula por exemplo, a universidade decidiu criar uma carteira maior, disponível em todas as salas”, explica.
Drika conta que a partir dessa época, muitas matérias em TV e jornais passaram a abordar o assunto, mas focando especialmente nas pautas de autoestima e beleza. “Como sou uma gorda maior, isso pra mim é relevante porque se eu não sou comportada em um espaço, eu não me sinto pertencente e essa é uma das questões que mais impactam a autoestima”, discorre.
Após atuar por dez anos como redatora publicitária e ser diretora de arte com experiência em figurinos, maquiagem de efeitos e cenografia, Drika Lucena se especializou em Criação Visual e Multimídia. Toda sua babagem de pesquisa adquirida como estudante e profissional e levaram à carreira universitária, lecionando disciplinas como História da Arte, Cultura Brasileira, Criatividade e Inovação e Cool Hunter na Faculdade ESAMC-Santos e Unisanta.
NA SALA DE AULA
A professora conta também que consegue levar cada vez mais as pautas de gordofobia e pressão estética para o seu trabalho. Em disciplinas como História da Arte, por exemplo, ela mostra aos alunos que beleza é um conceito imposto e que o que se chama de “gosto” é ensinado. “Nossos olhos podem ver beleza em tudo. Eu gosto de cutucar o que está enraizado para que os alunos aprendam que podem ter novos olhares para as pessoas e o mundo”, diz.
Já nas disciplinas de moda, sua presença é ainda mais impactante. Ao falar de moda plus size, Drika percebe que os alunos ainda chegam nas salas de aula com a visão de que é apenas no corpo magro que as roupas desenhadas por eles vão ficar bonitas e, além disso, que as turmas também esperam uma professora magra. “Quando eles se deparam comigo, uma gorda maior, existe um processo até me respeitarem e começarem a enxergar o assunto de uma outra maneira”, expõe.
AUTOESTIMA E GORDOFOBIA
“Eu não sei o que é ser magra, eu sei o que é ser gorda. E gorda maior. Por isso, nas minhas palestras em eventos e universidades, eu falo muito sobre aprender a se olhar sem culpa, tento mostrar porque chegamos até aqui, e como a sociedade influencia o olhar das pessoas sobre o gordo”, desabafa Drika. “Às vezes o modo como somos criados e o círculo com o qual convivemos impacta muito a autoestima”, completa.
“Já recebi cartas de pessoas contando como era difícil se sentirem bem e que uma moça escreveu que se ela estava viva ali, era porque ouviu o que eu tinha pra dizer”
Drika procura diferenciar autoestima, pressão estética e gordofobia. Apesar de estarem relacionadas, uma vez que todos podem sofrer pressão estética e ela afeta a autoestima, na gordofobia existem camadas mais profundas.
Autoestima, explica, é uma composição de várias coisas e que corpo e estética é só uma delas: “Às vezes nem é tão importante assim, quando você consegue construir o universo da pessoa que você é, e consegue enxergar o quanto você pode fazer. Eu sempre mostro de que maneira eu fui atrás de ser uma pessoa melhor pra mim e não para o outro, para que eu pudesse me ver com amor e respeito”.
Em relação à gordofobia, afirma que ainda é preciso falar muito sobre o assunto; sobre acessibilidade, trabalho, atendimento, saúde e uma vida digna. “Acho que ter o termo gordofobia já é um avanço e todas as influencers, todo crescimento do mercado de moda plus size vem mudando a sociedade e colaborando para que nossa pauta avance”. No entanto, é preciso avançar e falar sobre o corpo gordo em todas as outras esferas. “Só falando demais sobre um assunto é que as mentes e a sociedade se abrem para que as coisas melhorem”, declara.
—
Siga a Drika Lucena no Instagram instagram.com/_drika_lucena para conhecer mais seu conteúdo. Acompanhe o Pop Plus para curtir a nova coluna, que estreia nesta quinta-feira (27).
Leia aqui a estreia da Coluna da Drika.
1 thought on “Drika Lucena: nova colunista do Pop Plus fala sobre o corpo gordo, moda e autoestima”
Comments are closed.