Corpo gordo em movimento: veja como foi o debate no Pocket Pop Plus

O primeiro Pop Plus Pocket, que aconteceu durante um fim de semana inteiro no Sesc Guarulhos, promoveu o debate “Corpo gordo em movimento” no domingo (12) com participação da criadora de conteúdo e atleta Ellen Valias (Atleta de Peso) e da bailarina e professora de dança Júlia Del Bianco e mediação de Rafaela Hilário, (produtora, RP e educomunicadora). Na conversa, falaram sobre a relação de pessoas gordas com atividade física, acesso, preparo dos profissionais e saúde.

Rafaela Hilário dirige o Projeto Plus Size, uma organização para participação social, cultural e esportiva de pessoas gordas em Guarulhos e São Paulo (SP). Um de seus projetos é um curso sobre protagonismo e autonomia chamado Grandes Meninas, Grandes Mulheres. A ideia é ampliar conhecimentos sobre direitos humanos, violências de gênero, ativismo e liderança.

A atuação nas redes sociais de Ellen Valias tem o objetivo de mostrar que todas as pessoas podem fazer atividades físicas, e lutar para que elas não sejam ridicularizadas. Além de ser meia maratonista e jogadora de basquete, ela é estudante de educação física e luta para que o esporte não seja visto como estética ou punição.

Júlia Del Bianco é bailarina desde os três anos de idade e, aos seis entrou em uma academia especializada. Ela conta que sua vontade de dançar sempre foi algo além da própria compreensão, ao mesmo tempo que nunca foi dentro do padrão que o balé exigia: “Isso me causou alguns problemas, eu achava que ia ser a melhor bailarina que eu pudesse ser e, quando emagrecesse, seria excelente. Até perceber que eu já era. Foi a partir daí que passei a entender a gordofobia”.

corpo gordo em movimento
Foto: Rodrigo Félix

REPRESENTATIVIDADE

Rafaela exemplifica que, no decorrer da história, as mulheres já demoraram para aparecer nos esportes, como no caso da corrida de São Silvestre: “Estar em espaços esportivos tem muito a ver com a luta das mulheres”.

Para Ellen, essa é uma questão que fala diretamente sobre representatividade. “Corrida, por exemplo, é um esporte elitista, de pessoas brancas. E a gente só relaciona a pessoas magras. E sendo uma mulher preta e gorda, não tenho referências, não tem corpos iguais ao meu na corrida”.

Júlia também menciona a falta de representatividade dentro da dança: “Existem mais mulheres no balé, mas isso não faz o ambiente menos machista. Os homens recebem mais oportunidades para dar aula, para dançar. Tem mais mulheres dançando, mas os grandes coreógrafos são, na maioria das vezes, homens”. Ela também cita o recorte de raça, apontando que só recentemente as marcas começaram a fazer sapatilhas para diferentes tons de pele.

RELAÇÃO COM OS ESPORTES

“Para mim, minha performance é sobre ocupar espaços e concluir as provas de meia maratona”, diz Valias. A atleta, que reúne mulheres uma vez por mês para ocupar uma quadra e jogar basquete, afirma que é preciso abolir a ideia de “força de vontade” em relação à prática de esportes. “Não é falta de força de vontade: é falta de acesso. A academia é um ambiente nada acolhedor, sempre relacionado a emagrecimento e por isso as pessoas desistem. As faculdades de educação física não tem estudos sobre diversidade de corpos e os profissionais não sabem acolher nem a criança na escola”, declara.

“Não é falta de força de vontade: é falta de acesso. A academia é um ambiente nada acolhedor, sempre relacionado a emagrecimento e por isso as pessoas desistem.”

Del Bianco também compartilha sua vivência, contando que o fato de gostar muito de dançar a fazia desligar uma chave para o que a fazia sofrer ao redor. Ainda assim, por ter sido uma adolescente curvilínea, já se diferenciava das demais meninas: “Eu não era gorda na época, agora sou. Agora eu não tenho acesso às roupas, aos trabalhos. As pessoas acham que não vou dar conta”.

Hilário concorda com as falas, completando: “Você se afasta do esporte por conta das expectativas e críticas que colocam em você. Até mesmo na balada – as pessoas achavam que eu não ia aguentar dançar. Tudo isso te distancia dos esportes”.

As participantes do debate concordam entre si ao mostrarem que, além de lidar com a etapa de entrar em um esporte, ainda há a etapa de resistência e de existir com seu corpo naquele espaço. Júlia reafirma dançar com qualquer corpo nem deveria ser revolucionário, pois se movimentar é uma necessidade.

corpo gordo em movimento
Foto: Rodrigo Félix

ACESSO E SAÚDE

Valias também levanta a questão de que saúde e acesso são temas que caminham juntos, especialmente quando se fala sobre pessoas gordas em movimento: “O que é saúde? Ser magra não te garante saúde, a gente tá sempre relacionando ao corpo dito padrão. Também é preciso entender que atividade física precisa ser boa, não punição. Tem que ser prazerosa e fazer algo por prazer não é errado”.

Del Bianco lembra: “Quanto mais privilegiada, quanto mais dinheiro, mais opções as pessoas tem, seja aos acompanhamentos médicos, seja aos equipamentos adequados, as roupas…”. Ellen reforça que o discurso de saúde é gordofóbico e desumano: “Se você é o que você come, o que acontece com as pessoas que estão passando fome? Se isso realmente importasse, haveria macas para pessoas gordas serem atendidas. Tem que questionar o que é saúde, dizer que é ter acesso e dinheiro”.

Entender que é possível cobrar dignidade e escolher não estar em espaços que te desumanizam também é questão de saúde mental. “É horrível estar em um espaço onde você não é bem recebido simplesmente pela sua estética”, desabafa Rafaela.

Para finalizar, a mediadora completa: “Saibam identificar a capacidade dos lugares que vocês estão frequentando, se questionem para que vocês não se culpabilizem e não precisem se colocar em táticas de enfrentamento. Vejam referências de pessoas praticando esporte de formas saudáveis”.

Gostou? Assista ao debate sobre Corpo gordo em movimento na íntegra no Youtube:

 

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