beleza

Coluna da Drika: Beleza tem medida?

A coluna da professora universitária e artista plástica Drika Lucena questiona o significado da beleza e como aprendermos o que é bonito

A beleza é talvez uma das coisas mais subjetivas que existem. O entendimento do que é ou não bonito faz parte de uma construção individual que sofre diversas influências ao longo da vida.

São inúmeros fatores que colaboram com a mudança das nossas percepções perante quase tudo à nossa volta e a cada mudança nasce um novo comportamento, novas ações e novas perspectivas. As coisas que julgávamos belas no passado podem nem fazer mais parte da nossa lista atual de belezas, por exemplo.

As experiências pessoais, os aprendizados, as vivências, as convivências, o mundo lá fora, a vida em família, as viagens, amores, amigos, a profissão exercida, a mídia, as pessoas que cruzam nosso caminho, a natureza, cultura, as músicas, as emoções, absolutamente tudo, enfim, exerce influência sobre como vejo e qual o sentido da palavra belo em cada um de nós.

Apesar de existir o padrão, a visão de beleza segue respeitando todas essas questões listadas anteriormente e isso pode até nos confundir e nos fazer questionar o que achamos belo de verdade. Existe um padrão que é ensinado como sendo o certo desde sempre, mas existe também sua personalidade, suas escolhas, sua individualidade.  Não é muito simples negar um padrão e ainda ir contra ele. Sempre é mais “tranquilo” se convencer e se adequar, ou mesmo buscar essa adequação durante toda a vida.

Parece que se acharmos bonito aquilo que geral não acha estamos infringindo alguma lei tão séria que seremos mal vistos, julgados e condenados.

A beleza não deveria ser algo tão importante ou questionável mas se conseguirmos entender que ela é essa construção, tudo fica mais leve porque afinal ela estaria nos olhos de quem vê e não na imposição ignorante de quem padroniza formas e desenvolve mecanismos controladores de uma sociedade.

O que é então beleza? O que é bonito de fato? Existe essa definição?

A resposta é sim, existe. Mas a definição é a sua, é a minha, é a do outro, de cada um de nós, individualmente.

Acredito que somos “manipulados” desde pequenos e ensinados à gostar ou não de certas coisas e achar bonito ou não outras.

O quanto de interferência externa têm no seu gosto? É urgente ter essa conversa sincera e honesta com a gente mesmo porque as respostas nos libertam e mudam nossa visão para muita coisa.

Eu sou uma entusiasta do estudo das artes porque foi através dele que abri meus olhos e mente para admirar e ver beleza até no tal gosto duvidoso e questionável.

A arte abre a mente, treina o olhar, apresenta as formas, as cores e o mundo sob um novo prisma.

Eu ampliei minha visão de beleza em 100% e comecei a respeitar minhas percepções e sentimentos perante tudo.

Falando do corpo humano, é muito clara a pressão feita para a padronização e a exigência de se encaixar para ser considerado bonito. O resultado é todo mundo justificando seu gosto e ideal de beleza com base nesse “ensinamento” vazio e engessado numa estética opressora, limitante, elitista e segregadora.

Quem disse que apenas um tipo de corpo é bonito? Quem determinou que o magro bonito e o gordo feio? E porque em algumas culturas esse parâmetro é inverso?

Existe sim a imposição pelo esteticamente correto e isso vêm ao longo dos anos excluindo pessoas que habitam corpos não aceitáveis e as vezes indignos.

Um bebê gordo é uma fofurinha e todo mundo quer apertar, pegar no colo, brincar, já um adolescente gordo é ridicularizado, sofre bullying, é xingado. A chave vira muito rápido quando os parâmetros de beleza são acionados. A mudança de entendimento sobre beleza seleciona idade, sexo, classe social, fama, gênero e espécie, e classifica quem pode o quê. Isso por si só já deveria ser motivo para questionamento e dúvida sobre o assunto.

Por exemplo, uma mulher rica usando roupas largas e puidas é estilo e é lindo, e uma mulher pobre usando a mesma coisa é feia e desleixada. E olha que eu não quero dar exemplos ainda mais polêmicos.

Façam a lista das coisas que são bonitas e aceitáveis à um grupo X, vejam como se tornam feias para o grupo Y, e sejam surpreendidos como beleza muda rapidinho de significado.

Eu não tenho verdades absolutas. O que eu tenho é a vontade de provocar a reflexão e isso de alguma forma contribuir para novos saberes e para mentes mais libertas.

Na arte aprendemos muito observando a natureza e nela vemos uma enorme diversidade de cores, formas e espécies cada uma de um jeito e igualmente lindas. Na metáfora das flores com o corpo humano, de um pequeno botão a uma exuberante Vitória Régia, todas são flores com beleza única e diversa; e os corpos de baixos a altos, de brancos a pretos e de magros a gordos, todos também têm sua beleza única e diversa.

Na natureza tudo é beleza e contemplação. Entre os homens dominantes tudo é padronização, competição e seletividade.

Na arte como na natureza, a originalidade e o inusitado são beleza, a curiosidade é beleza, não há certo ou errado para o que é belo, porque a beleza não é só o que vejo mas também o que sinto, é meu estado de espírito e o que eu construo na minha mente e na minha alma.

Podem dizer que estou jogando fora todos os ensinamentos sobre harmonia, estética, simetria, perspectiva, alinhamento e etc.

Não, eu não estou.

Eu só quero dizer que beleza é um conceito subjetivo, que eu posso até usar parâmetros mas não métricas. Não há régua capaz de medir beleza nem na arte, nem na natureza e nem em nada que seja humano.

Talvez tenhamos que começar a aprender tudo outra vez.

(*) Drika Lucena é santista e professora universitária nas áreas de História da Arte, Estética, Produção de Arte, Criatividade, Tendências em Moda, Escrita Criativa e Estudos da Sociedade Contemporânea. Publicitária, Artística Plástica, especialista em Criação Visual e Multimídia, atuou como Redatora Publicitária e diretora de arte e desde sempre respira vive a paixão pela docência. Estudiosa da Cultura Brasileira, Cultura Popular, Criação e Inovação, ministra palestras, workshop, oficinas e mentorias. Drika fala de autoestima, autocuidado, sexualidade, dores e amores, vida e transformações da mulher real. Seu instagram é o @_drika_lucena

 

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