“Já pensou que louco seria se hoje você deixasse sua insegurança em casa? Estaria tudo bem com seu corpo, com seus cabelos, com sua pele e no trabalho, você saberia seu valor e o quanto é importante. No relacionamento, você teria confiança e não permitiria jamais que falassem coisas para te humilhar e, em família, você teria coragem de ser quem é.
Já imaginou quanta gente perderia dinheiro com a sua simples decisão de parar de brigar com a sua aparência e valorizar a pessoa incrível que você é?”
Os dois parágrafos acima fazem parte de um texto que eu escrevi há alguns anos e hoje, relendo, acabei refletindo sobre como e por que, ou até em quais momentos da vida que nos tornamos inseguros. Acabei pensando também no inverso e na minha “fórmula” pra me sentir confiante, se é que ela existe e se é que eu sou mesmo tão confiante assim.
Essa palavra, insegurança, parece nos perseguir; e ao longo da vida é bem raro não ser atingido por ela.
Acredito que o ser humano é criado pra ser inseguro. O pior é que esse é o tipo da coisa que tem poder de mudar uma trajetória de vida inteira.
Analisando as coisas em comum pelas quais nos sentimos inseguros logo me veio a chave pra abrir essa “caixinha” e desvendar a raiz de toda questão: a importância que é dada a opinião alheia e a opinião que temos sobre nós mesmos.
Não tem charada, não tem fórmula milagrosa, não tem magia. Quanto mais me preocupo com o outro e àquilo que ele pensa, quanto mais não confio em quem sou e na qualidade em ser, mais me sinto inseguro, incapaz, inferior e inadequado. Só essas duas questões já correspondem a metade das inseguranças de toda vida porque parece que estamos sempre muito focados nos outros e pouco na gente.
O que estão falando de mim, o que vão pensar, o que vão dizer, como serei visto, como serei julgado?
Desde criança as inseguranças são plantadas na gente. É só parar pra pensar em quantas coisas você foi desencorajado a fazer, quantas coisas eram “erradas” ou eram “pecado”, quantas vezes você ouviu que os vizinhos iam falar, que na escola iam falar, que na família iam falar, que tudo iam falar… E como se não bastasse, ainda tínhamos as mais diversas superstições, os medos colocados e claro, a cultura familiar, os costumes regionais, e os padrões impostos.
Por favor, não me entenda mal pois não estou falando que é errado ter medo, tomar cuidado com as coisas, ou mesmo seguir seus preceitos religiosos, por exemplo. A minha fala aqui é sobre ficar travado, inseguro, sobre não confiar em si mesmo, sobre temer julgamentos e com tudo isso, deixar de viver plenamente.
O que eu, por experiência própria, constatei é que ao me desvencilhar da opinião dos outros, me amar mais, admirar a mulher que sou e mudar meu olhar sobre mim, foi quando me tornei mais segura, minha vida fluiu melhor, tive maiores conquistas e me vi fazendo coisas que sempre quis mas que até então me sentia insegura para fazer. Claro que a maioria dessas coisas estavam relacionadas com meu peso, meu corpo gordo e com todas as regras que são impostas para as mulheres e mais ainda, para uma mulher gorda. Atualmente, além do peso, ainda tem a idade que, por vezes, tem me feito trazer alguns fantasmas das minhas inseguranças antigas e de outras novinhas em folha. É uma luta diária comigo mesma para não deixar que isso se instaure, vire uma verdade em mim e me paralise.
Com certeza, em algum momento da vida você já teve insegurança com sua aparência, quer seja em casa, na escola, nas festas da família, no relacionamento, no trabalho, no sexo, na praia, na academia, no médico, em todos os lugares, não é?
É difícil não ser atingido porque a base das nossas maiores inseguranças é o padrão, a imposição, a pressão estética, a cultura do desrespeito por tudo que é diferente. Ser gordo é apenas mais uma dessas diferenças desrespeitadas pela sociedade do rótulo, do padrão e do capitalismo com foco na nossa insatisfação e insegurança diárias.
Acredito muito na informação e na discussão como forma de nos abrir os olhos para tudo que fizeram com a nossa vida e para tudo que estamos fazendo, replicando e por vezes perpetuando
Acredito muito na informação e na discussão como forma de nos abrir os olhos para tudo que fizeram com a nossa vida e para tudo que estamos fazendo, replicando e por vezes perpetuando. Cultivamos sem querer e para cada uma dessas ervas daninhas cultivadas tem uma flor que deixou de ser colhida. Ou seja, cada nova insegurança é algo incrível que provavelmente você vai deixar de fazer.
Temos que pensar mais sobre isso, refletir de fato e nos olhar mais profundamente, tirar essas correntes. Vamos precisar ter olhos atentos para enxergar o que uma sociedade e suas imposições é capaz de fazer em nossa vida. É hora de entender o quanto certas regras podem nos adoecer e enfraquecer e será preciso também reconhecer todos esses males.
Ser uma pessoa segura e confiante é uma construção e não vem do nada. É um processo longo, diário e pra sempre.
Comigo funciona muito lembrar que sou única, que não há outra igual e que tudo que só tem um, não deve ser comparado.
Também entendi que não é deixando de fazer ou fugindo de algo que me tornarei confiante, muito pelo contrário. É o fazer, o encarar e o vivenciar que me ajuda a confiar cada vez mais em quem sou, no que posso e à viver o que eu quero. Eu confio na mulher que eu fui construindo, lapidando, e fincando confiança justamente nas individualidades.
Muitas gordas são inseguras porque ainda não aprenderam à se escolher todas as vezes que for necessário, se colocar como prioridade sempre e a se permitir viver, desejar e realizar independente do que nos fizeram acreditar um dia.
A gente sabe muito bem que a vida corre e é finita. O tempo nunca está esperando, ele tá é voando.
Que fique o aprendizado: insegurança demais prende, e confiança demais liberta.
—
(*) Drika Lucena é santista e professora universitária nas áreas de História da Arte, Estética, Produção de Arte, Criatividade, Tendências em Moda, Escrita Criativa e Estudos da Sociedade Contemporânea. Publicitária, Artística Plástica, especialista em Criação Visual e Multimídia, atuou como Redatora Publicitária e diretora de arte e desde sempre respira vive a paixão pela docência. Estudiosa da Cultura Brasileira, Cultura Popular, Criação e Inovação, ministra palestras, workshop, oficinas e mentorias. Drika fala de autoestima, autocuidado, sexualidade, dores e amores, vida e transformações da mulher real. Seu instagram é o @_drika_lucena
LEIA MAIS COLUNAS DA DRIKA LUCENA