Olhar para os países da América Latina tem sido cada vez mais importante para entender as tendências de moda e o crescimento do mercado plus size. Por isso, após conversar com a colombiana Laura Agudelo, o Pop Plus entrevista Brenda Mato, 32, modelo, criadora de conteúdo, estudante de sociologia e referência na moda plus size argentina. Com quase 150 mil seguidoras, ela é organizadora da Diversa Feria – El shopping de la Diversidad e ativista do movimento “Gordes Activistas de Argentina”.
A Diversa surgiu em 2018, quando a modelo teve a ideia de vender algumas roupas de seu acervo e convidou marcas para se juntarem a ela. Foi um sucesso e hoje, na oitava edição, a feira reúne 30 marcas que apostam na diversidade.
Ela falou ao Pop Plus sobre sua trajetória, militância e importância do evento. Leia a seguir:
REPRESENTATIVIDADE E ATIVISMO
Para Brenda, o ativismo gordo a ajudou a entender sua própria história: “Sou uma pessoa gorda desde que nasci, me deram a primeira dieta na vida aos nove meses de idade”. No entanto, foi a consciência sobre isso ser sua característica veio já adulta, aos 20 anos: “Foi muito difícil, e assumir que era uma pessoa gorda foi, em grande parte, graças ao ativismo gordo. Neguei minha realidade por muito tempo”. Ela explica que assumir o corpo a ajudou a construir sua vida e a entender como gostaria de habitar os espaços.
Ela construiu uma comunidade forte e engajada, que conta com quase 150 mil seguidores no Instagram, e está expandindo seu conteúdo para outras redes como TikTok. Ativista pela diversidade corporal – como se define – participa de bate-papos, debates e palestras, em espaços como Fundación Global Argentina e Fundación Bellamente. Já como influenciadora trabalha para marcas como Adidas, Absolut, L’Oréal e Natura e recentemente se tornou a primeira modelo plus size a estar na capa de uma revista de moda argentina, a L’Officiel.
A criadora de conteúdo conta que o cenário da moda plus size na Argentina é muito pequeno, já que o país cultua a magreza. Brenda faz parte de um dos coletivos antigordofobia da Argentina, o Gordes Activistas de Argentina, que em 2021 organizou o Primeiro Encontro Plurinacional de Gordos na Argentina, uma iniciativa de unir ativistas, militantes, acadêmicos e pesquisadores gordos para unir demandas e lutas e pautar políticas públicas.
Além disso, a influenciadora é uma das impulsionadoras da “Ley de Talles [medidas]“, que busca padronizar as tabelas argentinas de acordo com as medidas corporais da população.
“Por sorte, há cada vez mais pessoas e grupos trabalhando para que a pauta antigordofobia alcance cada vez mais espaços e que nos vejam como pessoas plurais”.
GORDOFOBIA NA ARGENTINA
A ativista aponta grandes preocupações em relação à magreza ser tão valorizada em seu país. “Existe muita gordofobia na Argentina. Estamos no topo do ranking mundial de número de transtornos alimentares”. Ela conta que isso se reflete no momento de comprar roupas. “Seis a cada dez pessoas relatam ter problemas para encontrar seus tamanhos. As roupas estão cada vez menores”.
Além disso, a exclusão de pessoas gordas do mercado também é uma questão relevante: ”Existe a dificuldade de acesso ao trabalho, porque se cobra muito uma ‘boa imagem’ – que significa não ser gordo”.
Assim como no Brasil, na Argentina também se sofre com a acessibilidade básica: assentos inadequados em transporte público, teatros, aviões e bares.
E claro, a gordofobia médica também está presente “Hospitais e clínicas médicas são instituições que querem te fazer acreditar que tudo é culpa do seu peso”, desabafa.
EVENTO DE MODA PLUS SIZE
Brenda criou o evento Diversa feria em 2018: “Ela surge como uma contraposição à todos os espaços que nos foram negados historicamente”. Sua ideia foi desenvolver um espaço seguro no qual pessoas de diversos tamanhos pudessem comprar roupas. “Queremos dizer ‘sim, temos seu tamanho. Você pode vir e estar em paz, aproveitar o momento e só não levar nada se não quiser'”, resume.
Tudo começou quando a influenciadora quis revender peças do guarda-roupa que não usava mais e convidou pessoas para somarem ao evento: “Começamos com quatro marcas e escalamos, até chegar na oitava edição, em abril de 2023, com 30 marcas de moda plus size nacional que apostam na diversidade de tamanhos, modelagem e design”.
Além de moda, o evento também promove bate-papos sobre os temas relacionados à diversidade de corpos e tem ambientes para que os visitantes possam relaxar, descansar e aproveitar com suas companhias, como uma praça de alimentação.
A ideia é que o evento aconteça de duas a três vezes por ano, planejamento que foi impactado pela pandemia. “Foi difícil retomar, especialmente encontrar um espaço adequado em relação ao tamanho e custo. O acesso gratuito ao evento também era essencial, para que qualquer pessoa pudesse ir e conhecer”, discorre Brenda.
ATIVISMO
A militante acredita que existem várias formas de lutar contra o preconceito: “Primeiramente, todos os ativismos são válidos, tendo maior ou menos alcance. É importante contar nossa história e fazer com que todas as formas de ativismo se complementem”.
Para ela, todos precisam aprender a conviver com a diferença, pois só assim podem ajudar a construir ambientes mais acolhedores.
A influenciadora esteve recentemente no Brasil a convite da Meta e, mesmo reconhecendo os problemas, acredita que as brasileiras são mais livres que as argentinas: “Me inspira ver essa felicidade e o uso das cores que vocês fazem. Muitas vezes, na Argentina, a maioria usa preto ou cores neutras”.
Brenda lembra que, mesmo que se fale em outro idioma, os desafios que brasileiras e argentinas enfrentam são os mesmos. “O problema nunca foi nosso corpo e nem nós mesmas. Existe algo muito maior pelo qual precisamos lutar e essa luta precisa ser em comunidade, pensando em um futuro melhor para todas”.
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