O Dia Nacional da Visibilidade Trans, 29 de janeiro, é uma data que reforça a necessidade de apoiar e lutar pela vida e direitos da população transexual e travesti. O Pop Plus, como espaço que preza pela diversidade e dignidade de todos, conversou sobre isso e muito mais com a artista residente do evento, a DJ Miss Draga.
Duda Leão Luiz, 38, é natural de São Paulo (SP). DJ do Pop Plus há 6 anos, dá vida à Miss Draga, sua persona drag queen, há 9. “Eu digo ‘persona’ porque personagem tem começo, meio e fim. A drag tem começo e meio. A gente é drag no ônibus, no metrô, na boate. Ela evoca coisas sobre nós mesmos”, explica.
Formada em psicologia, abandonou a clínica e é servidora pública há 10 anos. Ela conta que o curso foi essencial no processo de se entender em relação a identidade de gênero: “Sempre me vi como uma pessoa trans, mas a psicologia serviu para ampliar a visão sobre a minha identidade”.
Falar sobre sua identidade é levantar diversas bandeiras: “Vim da Zona Leste, sou uma pessoa gorda. Hoje me entendo como travesti porque sou latino-americana, e uso esse termo para ressignificar a nomenclatura que durante muitos anos foi usada para nos deslegitimar”.
IDENTIDADE DE GÊNERO
Duda conta que, no fundo, sempre soube qual era sua identidade. A personagem Buba, da novela Renascer, foi importante para trazer o tema da visibilidade trans para muitas pessoas, inclusive para a DJ: “Ela era intersexual, mas toda discussão em torno dela me gerava muitos gatilhos. De lá pra cá foi um trabalho árduo para entender quem eu era”. Durante a faculdade, foi uma amiga que estava transicionando quem acionou o gatilho, perguntando se Duda também era uma pessoa trans.
Ela conta que fazer drag foi se apropriar de um universo do qual era excluída: “A Miss Draga permitiu que eu vivenciasse o universo feminino que me era negado, do qual era apartada o tempo todo. Com ela, podia ser a mulher que sempre quis”, confessa.
MISS DRAGA E POP PLUS
Duda já se apresentava como Miss Draga há dois anos quando começou a tocar no Pop Plus. Sua primeira apresentação foi em 2016, em um espaço cultural na Barra Funda. De lá pra cá, foram muitos os momentos marcantes para a DJ, recebendo amigos ou interagindo com o público.
Para ela, um dos grandes destaques de estar na feira é sentir essa liberdade que é proporcionada a todos: “A Miss Draga é tudo que tenho e que durante muito tempo não permitia que acessasse a superfície. O Pop Plus é um momento de encontro, de conhecer outras artes, de experimentar. A Drag e minha vida pessoal não se separam, então participar do evento é um momento de catarse, um lugar onde tenho segurança para ser quem sempre quis”.
AUTOESTIMA E IMAGEM
Ser uma pessoa gorda e uma representação da visibilidade trans na cena artística é uma conquista que a DJ destaca. Ela diz que assim todos podem ver que pessoas gordas continuam sendo pessoas e podem acessar qualquer espaço: “É mais difícil se desvincular das inseguranças quando elas vem de tudo que é estruturalmente imposto. Mas é possível. Nós temos que estar e ocupar”.
Em relação à autoestima, com o processo vivido dentro da psicologia, a artista acredita que todo mundo está inseguro em algum nível – seja sobre corpo, sexualidade, identidade. Mas acredita que a dúvida pode ser benéfica: “A dúvida é a melhor coisa que pode acontecer na nossa vida, ela faz com que a gente se realoque, se redescubra, que a gente se permita olhar pro nosso mundo e mapear o que está acontecendo nele”.
Duda acredita que esse olhar atencioso a nós mesmos é o fator que faz toda diferença. “Ninguém liga pra nossa imagem. As pessoas só apontam na gente o que é difícil pra elas lidarem nelas mesmas. É uma projeção o tempo todo, e quando a gente deixa de pegar o que é dos outros pra nós, a gente se liberta”.
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