Coluna da Drika: “Nossa, como você engordou!”

O Natal e as comemorações de Ano Novo estão batendo na porta.

É bem comum que nessa época as pessoas fiquem melancólicas, tristes, solitárias, ansiosas e às vezes frustradas. Eu amo o Natal, amo decorar a casa, amo as comidas e todo esse clima de família. Acho o dia mais lindo do ano.

Porém eu sei que apesar da alegria que envolve esses dias, nem tudo são bolinhas e enfeites. Existem muitas coisas com poder de estragar a festa, mas a reflexão hoje é exclusivamente sobre as falas e atitudes gordofóbicas dos amigos e parentes. Já passou por isso?

O ambiente familiar nem sempre é acolhedor, sabiam?

O clássico “é para o seu bem”  parece que sempre será justificativa para as falas duras, que magoam e que por vezes geram o isolamento.

A ansiedade começa bem antes, na escolha da roupa, na confirmação de quem vai estar, segue na festa em si e pode terminar no quarto chorando. Muitos gordos vivenciam situações que machucam demais, marcam e por vezes humilham.

Caso na sua família não seja assim, acredite que você é um privilegiado. Nem todo mundo tem essa sorte e a realidade pode ser bem cruel.

Da mesma forma que existe o tio do “é pavê ou pra comer”, existe a tia que vai falar que você engordou, que desse jeito vai perder o marido, que não vai poder ser mãe, ou que não verá o filho crescer, que a roupa tá apertada pro seu tamanho, que você tá gorda demais e por aí vai o vasto repertório.

O trend topics da festa

Frequentemente seu corpo gordo é o assunto da festa, uma espécie de trend topics. Todo mundo vem opinar sobre o seu emagrecimento e dai vem de jejum à bariátrica até às milagrosas dietas da moda, da USP, da sopa, da Lua… Diante desse cenário muitos se calam e assistem o próprio corpo se tornar público.

Eu gostaria muito de saber que prazer há em tecer opiniões sobre o corpo alheio. Um bom prato de pernil, farofa, salpicão já não é suficiente para dar prazer a essa gente? A polêmica da uva passa ou da prima que chegou toda “emperequetada” e não trouxe nada também não os satisfaz?

Sendo bem irônica, é melhor não achar ruim e nem se manifestar quando falarem do seu corpo, a não ser que esteja pronta pra ser a “chata do rolê”, a “mimizenta”, a ingrata que não quer ajuda ou até a mal humorada que não aguenta “brincadeiras”.

Seguindo na ironia, um “pecado” imperdoável para os entes queridos preocupados com a nossa saúde, é comer. Nunca coma na frente deles. Na primeira garfada, eles virão pulando a rena, tropeçando na árvore, chutando o trenó e como num milagre de Natal vão surgir na sua frente pra falar: “é por isso que não emagrece”.

Longe de mim ser ingrata, mas quase esqueci da tia que nos defende e vive elogiando nosso rosto. Ela tá ali por nós, e em voz alta vai ensinar pra geral que beleza não é importante, que devemos valorizar o interior das pessoas. Como é gentil explicando que gente gorda é feia mas pode ser muito bonita por dentro, não é mesmo?

Ironias à parte, que tal esse ano inovar nas lembrancinhas e presentear com um lindo Kit Bom Senso, aquele que vem com limite, respeito e noção? Será que vão gostar?

Eu só sei mesmo é que passar pelas festas psicologicamente inteiro e sem se irritar não é tarefa das mais fáceis.

Eu não tenho fórmula pra isso, me desculpem.

 

 Eu estou livre porque nunca mais vou permitir que a opinião dos outros tenha importância à ponto de me atingir e me ferir

 

No passado eu escutava calada e depois chorava no banheiro, fingia que não estava ouvindo, respondia com frases feitas, fechava a cara ou até nem ia na festa.

Hoje minha paciência sucumbiu, não aguentou, coitada.

Não faz sentido que em 2022 quase 23, em pleno século XXI pessoas continuem falando do corpo, da roupa, da cor, da sexualidade, do peso, das escolhas, e da vida dos outros sem que sejam solicitadas. Isso é o tipo de invasão que não permito mais e nem normalizo porque é chato, cansativo, antiquado, deselegante e muito desrespeitoso.

Pode até ser clichê o que vou falar mas é o típico comportamento que diz mais de quem fala do que de quem é falado.

Eu estou livre dessa gente e não é porque eles não vão estar nas festas. É certo que eles vão estar.

Eu estou livre porque nunca mais vou permitir que a opinião dos outros tenha importância à ponto de me atingir e me ferir.

Abra a porta para as festas sim. É muito gostoso viver tudo isso, festejar a vida, confraternizar com as pessoas queridas. Faz bem aproveitar cada um dos bons momentos mas nunca esqueça de sempre se colocar ao lado dos que te amam exatamente por ser você quem é.

Onde há amor ninguém estraga.

Feliz Natal! Feliz Ano Novo! Que em 2023 a gente consiga viver melhor e mais confiantes na potência que é se amar.

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(*) Drika Lucena é santista e professora universitária nas áreas de História da Arte, Estética, Produção de Arte, Criatividade, Tendências em Moda, Escrita Criativa e Estudos da Sociedade Contemporânea. Publicitária, Artística Plástica, especialista em Criação Visual e Multimídia, atuou como Redatora Publicitária e diretora de arte e desde sempre respira vive a paixão pela docência. Estudiosa da Cultura Brasileira, Cultura Popular, Criação e Inovação, ministra palestras, workshop, oficinas e mentorias. Drika fala de autoestima, autocuidado, sexualidade, dores e amores, vida e transformações da mulher real. Seu instagram é o @_drika_lucena

 

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