Karina Beraldo, 41 anos, natural de São Caetano do Sul (SP) é designer têxtil e ilustradora, e mistura técnicas para criar figuras femininas místicas e fortes que mostram que o corpo gordo é lindo. Ela utiliza técnicas aguadas e desenho, tanto no papel como em murais, trazendo elementos botânicos, influências de artes e indumentárias de diferentes culturas. Um dos seus trabalhos mais conhecidos é o projeto ‘Sereias‘ no qual ela traz essa figura da mitologia representada com com o corpo gordo.
Para ela, um dos desafios de ser uma artista gorda “é não se deixar afetar quando surgem os comentários odiosos, porque ele infelizmente sempre vem quando você está exposta nas redes, seja em você ou no seu trabalho.”
Na entrevista ao Pop Plus, Karina respondeu às nossas perguntas sobre processo criativo, artistas que admira e projetos futuros:
Como começou sua relação com a arte?
Comecei a desenhar ainda criança, em uma lousinha aos 4 anos. Meus pais percebendo que eu gostava, me incentivaram comprando livros ilustrados e lápis de cor. Sou de uma família de classe média baixa, então não tinha muitas referências próximas, mas meus pais não podaram essa vontade de desenhar.
Qual sua maior motivação para criar?
Vivo para o desenho, às vezes quero comunicar algo ou colocar algo meu para fora, mas na maior parte do tempo é a ideia de criar uma identificação com as pessoas.
Como você trabalha a representação da diversidade dos corpos no seu trabalho e como isso começou a fazer parte dele?
Sou formada em moda e nunca consegui desenhar aquele croqui alongado, longilíneo que é comum na moda, sempre desenhei mulheres curvilíneas. Depois de um hiato de quase dez anos após a perda do meu pai, comecei a buscar temas que me interessavam para representar através do desenho. Uma vez vi uma foto de uma moça gorda com um cabelo gigante e pensei “nossa, ela parece uma sereia”, foi então que a desenhei de tal forma e foi um sucesso absurdo nas redes sociais. Foi daí percebi que aquela sereia gorda era eu também, não só eu, como tantas outras milhares de mulheres que se identificaram com ela.
Como é o seu processo criativo?
Tenho cadernos onde estou sempre esboçando coisas. Em paralelo a isso, fico o tempo inteiro buscando referências visuais de temas que gosto: viagens, lugares, indumentárias, povos, flores, e a partir dessas referências vou criando séries de desenhos.
O que você faz para se distrair e manter a mente criativa?
Eu ouço música o tempo todo, é a minha maior válvula de escape e ferramenta de concentração. Também leio bastante quando posso (antes da pandemia conseguia ler mais) e busco sobre o que envolve viagens e culturas diferentes da minha, seja viajando ou assistindo documentários.
Pop Plus: Quais os seus trabalhos ou projetos preferidos?
Karina Beraldo: Tenho um carinho especial pelo projeto “Sereias” pois foi o que me trouxe mais visibilidade, o projeto “Deusas”, e agora o das Mulheres Partidas.
Pop Plus: Quais são suas influências, inspirações ou artistas preferidos?
Karina Beraldo: Tenho uma “Santíssima Trindade Francesa” de ilustradores que adoro e me inspiram bastante, são eles: Rebecca Dautremer e Moon Mtx com seus mundos imaginários incríveis e a retratista Stephanie Leddoux. Gosto também de um artista aquarelista espanhol chamado Conrad Roset. Entre os brasileiros, admiro a Clarissa Paiva e a Sabrina Eras, que foi minha mestra e hoje tenho o privilégio de chamar de amiga.
Pop Plus: Quais os desafios de ser uma artista gorda?
Acho que o principal é não se deixar afetar quando surgem os comentários odiosos, porque ele infelizmente sempre vem quando você está exposta nas redes, seja em você ou no seu trabalho. Também conseguir visibilidade em eventos, projetos e até nas redes, porque, infelizmente ainda somos invisibilizadas nos lugares, divulgações seja por tamanho, idade e cor.
Quais dicas você daria para outras artistas gordas potencializarem suas criações?
Respeite seu tempo e seus processos, tente colocar na sua arte a sua verdade e não o que as pessoas querem ver, porque isso vai conectar o expectador com você e consequentemente com a sua arte.
Que artistas gordas você acompanha e pode indicar?
Eu não stalkeio o artista pra ver como a pessoa é fisicamente, tem artistas que admiro e sigo há muito tempo, e que fico até surpresa quando conheço pessoalmente porque às vezes a pessoa é muito diferente do que eu imagino, mas gosto dessa surpresa. Duas artistas gordas que admiro são a Lovemaltine e a Pri Barbosa.
Você tem algum novo projeto em andamento?
Eu pretendo seguir um tempo nesse projeto de ‘Mulheres Partidas’, quero fazer um livro ilustrado (recentemente ilustrei minha primeira capa de livro e foi algo interessante, o livro será lançado na bienal) e tenho um projeto paralelo de arte digital chamado ‘Meu Armário Imaginário’, onde me desenho em estilo cartoon com looks que eu gostaria de usar.
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