A 30° edição do Pop Plus30° edição do Pop Plus, tendo como tema o amor, promoveu uma conversa sobre O corpo gordo, sexo e afeto no domingo, 12, com mediação da jornalista Jéssica Balbino e mesa composta pela multiartista Fla Carves, pelo rapper Pjay e pela modelo e performer Juju ZL.
Na apresentação, Flávia Durante lembrou que uma das várias faces da gordofobia é no campo afetivo; e que um conhecido comportamento é o do fetichismo, já que muitas vezes o problema da pessoa gorda não está em conseguir sexo, mas em ser assumida e reconhecida como digna de afeto.
Jéssica Balbino iniciou a conversa com uma questão central: como o afeto entra na vida de cada um, considerando que somos corpos dissidentes em diferentes esferas e cenários sociais?
Debate foi mediado pela escritora e jornalista Jéssica Balbino
“A gente tem uma ilusão do que é o afeto e acaba colocando amor em lugares onde, na verdade, havia violência“, responde Fla Carves. Ela explica que crescer em uma família disfuncional fez com que sua visão fosse que afeto era algo desorganizado, difícil de alcançar. “Comecei a falar e olhar para o meu corpo, só depois fui entender o que era afeto”, complementa.
Como gordo maior, Pjay conta que sempre viveu como uma pessoa não digna de respeito e amor, como se a única possibilidade fosse aceitar o mínimo. “O meio em que a gente vive sempre vai achar uma forma de te violentar. A gordofobia me trouxe situações de extrema dependência emocional“, desabafa. Ele também acredita que a gordofobia impõe uma responsabilidade sobre a pessoa gorda: “como se fosse nossa obrigação pulverizar dores que não são nossos problemas”.
Sua resposta é complementada por Juju ZL, que conta que desde criança achava que não seria digna de afeto. “Primeiro porque sou mulher, depois entendi que era também uma questão das mulheres negras. Vi todas as mulheres da minha família vivendo uma série de agressões“. Ela também pontua que ninguém fala sobre a solidão de ser uma pessoa gorda e ter outras pessoas ao seu redor relativizando suas vivências. “Você pensa que está ficando louca”, diz.
Afeto, arte e política
Ao lembrar da solidão e da sensação de não-pertencimento, Jéssica também menciona como é difícil se formar essa rede de apoio entre pessoas gordas, mesmo quando sabemos que elas existem. Por isso, levanta uma questão: como afeto e arte se relacionam?
“Eu cansei de ficar sob a ótica da dor e comecei a repensar o que é se relacionar”, conta Fla Carves. “Eu entendi que meu afeto, meu corpo, tudo é político e cheguei na não-monogamia política. Por que a gente sempre embasa nossas ideias de vida e objetivos sob a ótica do outro?”.
Fla Carves em fala sobre não-monogamia política
Ela também expõe que a não-monogamia política não é apenas sobre se relacionar com mais de uma pessoa ao mesmo tempo, mas entender quem são os corpos que escolhemos, com quem a gente se relaciona, quem está no nosso círculo de amizade. E a partir disso, a multiartista passou a expor suas questões em seus trabalhos. “Não tem como desvincular meu trabalho de quem eu sou”, explica.
Para Pjay, o resumo de sua resposta seria a frase “eu canto o que eu vivo, e vivo para cantar”. Dessa forma, ele vê necessidade em mostrar o que é a vida de uma pessoa gorda para o mundo. “Nossa relação com sexo e afeto é sempre diferente. A gente precisa de tempo pra processar as coisas, para confiar, para entender que não seremos violentados”, diz.
Rapper e compositor Pjay em fala durante o debate
Juju, por outro lado, diz preferir não falar sobre suas dores, já que no seu caso “ser a única mulher negra e gorda em alguns espaços já diz muito, ter psicológico suficiente para lidar com pressões e micro agressões já diz muita coisa”. Ela também explica que aprendeu a questionar suas dores e isso faz dela uma pessoa mais alegre.
O público do debate trouxe perguntas sobre as relações na pandemia, necessidade da bariátrica, relações com pessoas magras e autoamor.
Pjay explica que emagrecimento e saúde não são coisas relacionadas, pois no começo da pandemia, quando havia um risco muito maior de vida, ouviu de muitas pessoas que ele deveria sair e fazer caminhadas. Também conta que as pessoas magras com quem se relaciona sempre são questionadas por outras pessoas sobre o corpo dele ou o motivo da relação, “como se a pessoa nunca tivesse reparado antes que sou gordo”, brinca.
Juju ZL em destaque
Juju lembra que, para quem é periférico, o único que é ensinado é sobreviver, não a pensar sobre si. “O problema não é fazer a bariátrica, é agir como se ela fosse a única opção para ser feliz”. Fla Carves menciona como a pandemia remodelou e quebrou muitas formas de se relacionar. “O medo de morrer passou a pautar nossas relações”.
Ao final, ao trazerem suas visões sobre autoamor, Fla afirma que “precisamos ser desobedientes, pois se fôssemos obedientes nem estaríamos aqui”. Juju traz o autoafeto como uma possibilidade, mas também um processo constante. “Todos passamos por isso, mas fazem questão de nos fazerem achar que é só com a gente”.
Pjay confirma: autoamor é exercício, é como um músculo.
Você pode ver o nosso debate sobre O corpo gordo, sexo e afeto na íntegra no Instagram ou pelo link abaixo.