Para falar sobre o futuro da moda que queremos criar, o segundo dia de Pop Plus contou com o apoio da Ashua para promover o debate sobre “Moda, Estilo e Tendências”. A conversa contou com a participação da jornalista e influencer Genize Ribeiro, da empreendedora e influencer Júlia Vecchi e foi mediado pela jornalista Heloísa Rocha, que também fala sobre moda em seu perfil Moda em Rodas.
“A gente está construindo o futuro”, como disse Flávia Durante ao iniciar o debate. Mas qual é esse futuro quando falamos de tendência, criação, mercado, referências e estilo pessoal?
Tanto Genize quanto Júlia tem seus trabalhos de base na ideia do gordoativismo e da luta antigordofobia. Para Genize, falar de moda é falar de acessibilidade e de dignidade enquanto Júlia conta que, por ter trabalhado por 12 anos em varejo, pode observar muita coisa nos bastidores e está na internet falando especialmente sobre o lugar da pessoa gorda na sociedade.
Ao iniciar a pauta sobre representatividade, Heloísa pontua que ainda que não seja o público alvo da moda plus size, é importante lembrar que o corpo com deficiência também pode ser um corpo gordo, um corpo preto, um corpo trans e mesmo em campanhas de pessoas com deficiência, só se vê corpos magros.
Genize lembra que dificilmente se vê representada em campanhas. “A mulher preta e gorda é sempre a de pele bem clara e corpo curvilíneo, sem dobras e marcas. Nunca vi uma mulher com meu corpo, meu tom de pele e meu cabelo”. Como explica Julia, “a gente se inspira na gente, nas mulheres do nosso próprio movimento”.
“A mulher preta e gorda é sempre a de pele bem clara e corpo curvilíneo, sem dobras e marcas. Nunca vi uma mulher com meu corpo, meu tom de pele e meu cabelo”, Genize Ribeiro, jornalista e influencer
Moda, estilo e tendências acabam andando de mãos dadas e, por isso, é sempre necessário lembrar que as grandes marcas ainda não mostram todos os corpos e mais do que colocar uma pessoa gorda no desfile, é preciso fazê-la se sentir parte da marca, vista na sua grade e nas coleções.
“Toda tendência é lançada pro corpo magro, isso é fácil. Quero ver lançar calça de cintura baixa pra gordo”, comenta Julia, que tem o complemento de Genize dizendo que baseia seu estilo sempre em pequenas marcas, pois “grandes marcas só produzem para corpos magros. Eu sou uma mulher de 30 anos e agora consigo encontrar peças do meu estilo em pequenas marcas, mas aos 15 eu não poderia”.
Outro ponto destacado foi a movimentação da ABNT para a criação de uma tabela de medidas. Para Julia, “foi importante porque todo mundo sabe que não temos um tamanho padronizado, mas também é importante que a gente tenha foco nas nossas medidas. Nós não somos um tamanho, eu não sou um corpo plus size, sou um corpo gordo”. Genize exemplifica que “a gente usa 56 em uma marca, 58 em outra, 60 em outra. É muito difícil lidar com essa falta de padronização de medidas, por isso a ação da ABNT é positiva”
“Nós não somos um tamanho, eu não sou um corpo plus size, sou um corpo gordo”, Julia Vecchi, influencer e empreendedora
O público também foi bem participativo nesse debate. Ao serem questionadas se os problemas na criação de moda e tendências também pode ser vista como uma questão social, todas concordaram que sim. Para Genize, “quando a gente começa a falar de gordofobia e acesso, também é questão de política pública. Estamos fazendo muita coisa, mas sozinhas e sem políticas públicas a gente não consegue mudar tudo. Por que a gente normaliza que uma marca grande escolha não vender pra mim? Moda é política, é acesso, é inclusão”.
Além disso, a questão do valor pago pelas peças também foram discutidas. “Temos que cobrar que sejam preços acessíveis e tamanhos para todos de marcas grandes, que tem suporte industrial para produzir, não dos pequenos empreendedores que fazem tudo sozinho e em pequena escala”, explica Julia.
Por fim, as participantes também lembraram que falar de inclusão precisa ir muito além. “A sociedade nos esconde, não nos dá uma roupa para vestir, ônibus pra gente andar, lugares pra nos sentirmos confortáveis”, diz Julia, que complementa dizendo que inclusão é estar em todas as coleções, como lingeries, meias, toalhas. “Se falta acesso para quem tem acesso à moda fashion, imagina para quem depende da moda popular e precisa, às vezes, emendar roupas?”.
No caso de pessoas com deficiência, por exemplo, que utilizam cadeira de rodas, Heloísa pontua que “as roupas são projetadas para corpos que ficam em pé, não para corpos que ficam sentados”. É preciso colocar o consumidor, pessoas gordas, pretas, com deficiência, para falar, lembra Julia, que questiona: como criar uma coleção se você não escuta as pessoas que vão usar aquilo?
“As roupas são projetadas para corpos que ficam em pé, não para corpos que ficam sentados”, Heloísa Rocha, jornalista
Gente gorda não é tendência, são pessoas, afirma Genize. E para falar de moda e estilo, “as marcas precisam humanizar nossos corpos”.
Para assistir ao debate na íntegra acesse o arquivo em nosso insta @popplusbr ou abaixo.
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