por Flávia Durante *
Depois de um 2019 muito difícil, o ano de 2020 começou prometendo: viagem pra Lisboa pra ver o show da Madonna, Pop Plus Carnaval delicinha, os 4 Pop Plus em São Paulo, várias datas itinerantes confirmadas pelo interior e litoral de São Paulo, planos de mais edições até 30 Reais pela periferia da Capital…
Quando tudo explodiu
Até que, como uma bomba, surgiu o coronavírus em todo o mundo em Março. Estávamos em plena montagem na sexta-feira 13, véspera do primeiro grande evento do ano. Foi quando recebemos a notícia de que governo e prefeitura haviam mandado cancelar todos os eventos de massa por termo indeterminado após o aumento dos casos de Covid-19.
Havíamos feito o possível para que o evento continuasse, pois sabemos que muitos pequenos empreendedores contam com o Pop Plus para o faturamento do trimestre. Por isso não o cancelamos logo nos primeiros boatos sobre o Covid. Mas, passada toda a confusão, pensando bem foi o melhor a fazer. Teria sido muito triste o Pop Plus ter sido foco de coronavírus. Faturamento se recupera, vidas, não.
Mas ainda assim, o baque foi muito grande – tanto emocional, quanto financeiro. O prejuízo foi enorme pois tive que fazer devolutivas significativas e não tive nenhuma devolução de nossos fornecedores de serviço e do local onde fazemos o evento. Me senti perdida e desamparada. E mais dois Pop Plus foram cancelados, o de Abril em Campinas e o de Junho em São Paulo. Provavelmente os de Setembro e de Dezembro também serão cancelados, pois os grandes eventos serão os últimos a voltar.
Depois do choque
E aí veio uma Depressão profunda, algo pelo qual nunca havia passado. Foram semanas sem conseguir pensar em nada, sem conseguir reagir, só ficar deitada e chorando, às vezes sem nem tomar banho. Me assustei comigo mesma pois sempre fui uma pessoa que reagia frente todas as dificuldades. O Pop Plus, aliás, surgiu de uma dificuldade. A de encontrar roupas do meu tamanho.
Também tive que enfrentar problemas de saúde que havia começado o ano disposta a resolver: a Diabetes e um Leiomioma uterino de grande dimensão. Tive que começar a tomar insulina esse ano, o que me deixou profundamente fragilizada. Pois, apesar de ser um tratamento para melhorar a saúde, abalou muito minha autoestima ter que me espetar 2 vezes por dia.
E o mioma me deixou menstruada praticamente sem interrupções desde Janeiro, virando uma hemorragia que me deixava ainda mais fraca. Enfim, foi muita coisa ao mesmo tempo e nenhuma perspectiva de retorno do meu trabalho e de melhora financeira, o que deixava tudo ainda pior.
Uma rede de acolhimento
Felizmente consegui recorrer a apoio médico e a continuar o tratamento psicológico que já fazia. O apoio incondicional de meu marido foi fundamental nessas horas. O apoio de clientes e de seguidoras – que me viam triste nas redes – foi maravilhoso e emocionante. Mas a grande virada começou quando comecei a me reunir virtualmente com colegas de trabalho, produtoras e curadoras de eventos como eu, e a compartilhar minhas dificuldades e vulnerabilidades.
No meu entender estavam todas já trabalhando e se virando horrores, enquanto eu era a única que não estava conseguindo tirar o pé da lama. Ao ver que todas estavam passando pelas mesmas dificuldades e se ajudando mutuamente, me senti acolhida. E começamos a semanalmente a nos falar pela internet, a trocar ideias, compartilhar sentimentos e a criar ações. Assim surgiu o Coletivo de Produtoras Independentes, que reúne produtoras de feiras e de coletivos de todo o Brasil. Lançamos nosso manifesto no dia 24/07.
Terapia do movimento
Passei por todas as fases dos “quarenteners”: a dos surtos, a dos lookinhos, a dos seminudes, a das aulas de yoga (com a Vanessa Joda, que sempre está no Pop), a das lives… Mas me descobri mesmo na cozinha. Sempre soube cozinhar o básico, mas passei a me aperfeiçoar e a variar nas receitas com a ajuda do YouTube. E isso me ajudou muito com a ansiedade.
Quando uma receita pede “misture com delicadeza” eu tenho que respirar umas 10 vezes pra não fazer tudo de forma estabanada e estragar o processo (como já aconteceu). Você vai aprendendo a se controlar. Ou você presta atenção ou se queima ou perde o ponto. Tive as fases dos pães, dos bolos, da comida árabe, virei expert em comida vegetariana e a super curiosa por novos temperos.
As aulas de dança também me ajudaram muito, embora eu tenha muita dificuldade com as aulas online (depois dos 40 a vista já não é mais a mesma…). Comecei a aprender a tocar snujs nas aulas de dança do ventre com a professora Monique de Kervelegan. Comecei a fazer danças urbanas com a Aiza (a Ju Whacking, que já se apresentou várias vezes no Pop Plus).
Mergulhei profundamente no universo do flamenco, a ponto de fazer duas aulas ao mesmo tempo, a da minha escola de dança com a professora Cinthia Salgueiro e a de um workshop do Centro de Referência da Dança do Estado de São Paulo – CRD com o professor Antonio Benega. Mergulhei em filmes, em discos, na poesia de García Lorca. O flamenco me ajuda a resgatar a força e a braveza que eu havia perdido completamente. Enfim, o tal do “duende do flamenco” finalmente me arrebatou.
A vida na janela ao vivo
As famosas e tão detestadas lives me deram um novo gás! Dei entrevista para inúmeros canais, fiz entrevistas com amigos para o meu perfil pessoal no Instagram e me animei a finalmente estruturar o canal do Pop Plus no YouTube. A cada semana com um convidado diferente, as Lives do Pop Plus me ajudaram a relembrar do meu lado comunicadora e me deixam mais rica de conhecimento e de empatia.
Fiz minhas primeiras lives como DJ: a primeira, uma festa fechada para o “arraiá” de empresa, o primeiro job pago em meses de dureza. Ufa! A segunda, uma live aberta para o público na qual toquei rock de todos os tempos. A energia que me deu ao tocar foi inexplicável! Me senti verdadeiramente abraçada pelos amigos, mesmo online; foi uma noite inesquecível.
E finalmente coloquei em prática um sonho de anos: o de ser professora! A convite de minha amiga e colega de trabalho de anos, a stylist Manu Carvalho, virei colaboradora de seu curso de “Consultoria de Moda Plus Size”, que já existe há 8 anos no mercado e da qual já havia sido aluna e palestrante. Já ministrei aulas para duas turmas e em Agosto faremos mais uma. Estou super animada com mais essa faceta!
Recompondo-me para o futuro
E para o Pop Plus, como os eventos ainda não têm data para voltar, nosso foco logo migrou para o conteúdo. O novo site traz ainda mais moda, comportamento, Cultura Pop e não só a agenda do evento. Reestruturamos o canal do YouTube, adicionando as lives semanais aos arquivos de debates, clipes e apresentações de dança já existentes.
Participamos da primeira edição virtual da Casa Tpm com uma curadoria de 20 marcas de nossa rede. Estamos lançando a #redepopplus para impulsionar a divulgação das marcas parceiras. E em breve teremos nossa Vitrine e nossa Feira Virtual, finalmente.
QUE LOUCURA o que a gente teve que aprender e se reinventar nesse período! Foram 6 anos em seis meses, com certeza. Eu preferia estar em uma zona de conforto SIM, pois foi algo que nunca tive em 43 anos de vida, uma vez que não sou de família rica e por ter escolhido uma carreira instável. E que essas 100 mil vidas JAMAIS tivessem sido perdidas para que alguém alcançasse um crescimento financeiro, espiritual ou intelectual.
Mas o que tiro de bom foi o tanto de aprendi de coisa nova, ver que ainda sou capaz de aprender muita coisa e de me reinventar mesmo depois dos 40 anos. E ver quem é seu “tamojunto” de verdade nas temporadas boas e nas ruins.
Muito obrigada ao apoio de todas e todos nessa temporada baixa de Pop Plus. Com certeza voltaremos muito fortes com ajuda de todas e todos vocês! <3
* Flávia Durante é comunicadora, DJ e criadora da feira de moda plus size Pop Plus. Seu Instagram é o @flaviadurante