por Andréa Gouvea *
Quando a pandemia ainda não havia chegado ao Brasil eu já me preocupava muito, pois meu marido tinha viagens agendadas para convenções no exterior e meu medo era enorme.
Curti o Carnaval como toda boa brasileira sem nem pensar no vírus e logo depois começaram a pipocar casos em todas as regiões do Brasil, mas meu estado ainda não havia sido afetado.
De repente a pandemia chegou a Manaus, ainda não de maneira forte e descontrolada, mas eu já me preocupava muito. Fui uma das primeiras da minha equipe a ser liberada para trabalhar em casa por ser grupo de risco pelo número de alergias respiratórias que possuo e por ter tido uma crise de ansiedade quando o primeiro caso foi confirmado aqui.
Eu tive uma sensação desesperadora de perigo iminente em tudo que eu fazia ou tocava. Por isso saí de casa apenas uma vez após a liberação para ir ao mercado.
Em Manaus a situação foi gravíssima. O sistema de saúde já estava muito ruim vindo de governos anteriores e colapsou rapidamente com a chegada do coronavírus. A alta de óbitos causou uma crise no sistema funerário. A baixa aderência ao isolamento social e a falta de fiscalização nos comércios abertos ajudou muito na propagação. Moramos em um estado que depende do sistema fluvial para que muitas mercadorias cheguem. A situação foi desesperadora e continuei em casa para manter a minha integridade e a de outros.
Neste tempo busquei me manter produtiva para além do meu trabalho fixo. Entrei na onda das Lives e Challenges e busquei criar cada vez mais conteúdos para falar sobre gordofobia e o universo gordo no Instagram. Fiz conteúdos exclusivos com outras influenciadoras gordas de Manaus e trouxe visibilidade para a região Norte.
A quarentena me ajudou a ajustar o meu trabalho como influenciadora para ir além da moda plus e falar sobre assuntos que fazem parte do cotidiano de todos como livros, saúde mental, exercício físico e arte, entre outros.
Passei a cozinhar mais em casa e a consumir mais produtos locais de produtores pequenos. Montei uma horta de temperos, que ajuda na vontade de cozinhar todos os dias e encheu minha cachorra de curiosidade pelo cheiro e formato das coisas. Busquei séries e filmes que sempre quis ver mas não tinha tempo. Li e estudei sobre gordofobia, autoimagem, padrões de beleza e comunicação.
Acredito que a minha quarentena começou desesperada, cheia de medo e foi se tornando segura e criativa conforme eu fui entendendo que estava me cuidando e este momento era de autorreflexão.
Sinto muita falta dos meus amigos e não vejo a hora de tudo isso passar para que possamos tomar um café, conversar e discutir como foi para cada um este período.
❤️
* Andréa Gouvea é criadora de conteúdo e influenciadora. Seu instagram é o @gordeia_
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