Natalia Barchet

YouTuber gaúcha Natália Barchet fala sobre gordoativismo, body positivity e suas inspirações

Natália Barchet

O Pop Plus sempre valorizou o trabalho dos influencers do segmento plus size e os ativistas body positive. O trabalho dessas pessoas é importantíssimo e transformador para aqueles que buscam apoio e informação. Aqui mesmo no Blog do Pop Plus você pode encontrar uma série de posts sobre influencers e seus trabalhos dentro e fora da internet. Nossas antenas sempre estão ligadas em busca dos novos nomes que trazem destaque para esse universo, tanto por suas questões políticas e sociais, quanto pelo aspecto mercadológico, que tem estado sob uma lupa pela indústria da moda e da beleza nos últimos anos.

Foi assim que descobrimos Natália Barchet, estudante do Rio Grande do Sul, que tem chamado atenção por seu discurso conciso e pontual nos vídeos do seu canal no Youtube. Com 20 anos, a gaúcha divide seu tempo entre a faculdade de Ciências Sociais,  sua participação no Unas, coletivo feminista interseccional, e seu canal.

Natália começou a se posicionar ativamente como gordoativista em 2016. O momento em que ela considera um divisor de águas foi entrar em contato com uma playlist de vídeos curtos no YouTube que falavam sobre pautas e especificidades do corpo gordo, tudo em um sentido bem político, de ações práticas e coletivas, fugindo da esfera da autoestima. “Foi naquele momento que eu percebi que existe uma argumentação a ser feita em prol dos nossos corpos e dos direitos que são negados a ele. Foi também meu primeiro contato com o trabalho incrível da ativista Raquel Patrício”, afirma a YouTuber.

Em 2017, através do CNPq e com orientação da antropóloga Débora Leitão, Natália teve a oportunidade de estudar gordoativismo cientificamente. A partir disso teve início sua pesquisa sobre a visão gordoativista do mercado plus size. E como reflexo de sua pesquisa que Barchet começou a considerar o YouTube como ferramenta rápida e eficiente de militância hoje em dia.

Vídeos recentes:

Tive a oportunidade de bater um papo com a Natália para conhecê-la melhor, entender como surgiu seu posicionamento e mostrar para vocês porque vale a pena prestar atenção no conteúdo dela daqui para frente:

Nic: Como é sua relação com o seu corpo?
Natália:
Considero que a minha relação com meu corpo, hoje, é bem saudável e positiva. Como qualquer pessoa, não me acho maravilhosa em todos os dias do mês, mas acho que isso é algo normal e inclusive biológico. Apesar disso, me sinto bem comigo mesma boa parte do tempo, e gosto muuuuito de brincar com essa questão da aparência através da moda. Mas essa visão positiva de mim mesma é um processo que construo há alguns anos e que ainda está acontecendo. A gente sabe que não é da noite paro dia que se desconstrói 18 anos de pressão estética e gordofobia, né? Esperar uma autoestima perfeita é algo que considero muito irreal considerando a sociedade na qual nós somos criadas. Com isso em mente, algo que eu construí na minha mente (e que acho parte imprescindível da militância gorda e feminista) é a certeza de que o meu corpo não define o meu valor, e que ele jamais, em hipótese alguma, pode ser motivo de tanta frustração e tristeza como nos ensinam. Me sentindo bonita ou não, eu sei que sou uma mulher incrível e que qualquer pessoa que me julgue com base no meu corpo não merece meu respeito ou meu tempo. Mas resumindo, tenho uma relação bem boa comigo mesmo e desenvolvi muito minha autoimagem depois que lancei o canal! Atrás de cada vídeo tem mais ou menos 3 horas de edição, então passo muito tempo olhando pra minha cara e me ouvindo falar hahaha. Passei a me gostar muito mais e a normalizar a minha imagem depois disso tudo, acho que isso acontece com todas as pessoas que trabalham fazendo uso da própria imagem de alguma forma.

“Construí na minha mente (e que acho parte imprescindível da militância gorda e feminista) é a certeza de que o meu corpo não define o meu valor, e que ele jamais, em hipótese alguma, pode ser motivo de tanta frustração e tristeza como nos ensinam”

Nic: Quais são as suas principais referências?
Natália: Tenho uma musa inspiradora da política: a Rachel Patrício! Os vídeos que mencionei na primeira pergunta tinham ela e mais duas mulheres, e desde então acompanho a militância dela com admiração, principalmente porque ela faz a gente ver “faces” da realidade que não ficam muito a mostra. As vezes surge algum tema a ser debatido sobre gordofobia e ela mostra uma opinião extremamente única e que joga uma luz nova sobre o problema. Além disso, admiro como a militância dela é pura e simplesmente política. Não é por fama nem status, e pela necessidade imprescindível de mudarmos a nossa realidade.

Além da Rachel, admiro a Flávia Durante pelo trabalho com o Pop Plus. Como eu disse anteriormente, pesquiso o mercado plus size e vejo que existem muitos problemas que precisam ser resolvidos. Como dona dessa marca enorme que é o Pop, seria muito fácil pra Flávia (tanto em termos práticos quanto financeiros) simplesmente trabalhar dentro do que já existe no mercado, sem pedir por melhorias, e isso é justamente o oposto do que ela faz. Os esforços da Flávia pra tornar o Pop Plus um espaço que cada diz mais diversifica os corpos que atende, sempre buscando aumentar as grades de tamanhos, as modelagens, sempre trabalhando em cima da representatividade de corpos realmente gordos, isso é a prova de que não existe desculpa para quem quer agir e mudar o mundo da forma que pode. Todo mundo pode fazer algo, independentemente de onde estiver.

Além delas, tenho como referência a Bee Reis, porque ela não tem medo de dizer o que precisa ser dito, sabe? Ela vai expor a gordofobia do mundo de forma clara e objetiva, doa a quem doer. As análises dela sobre o mercado plus size mostram isso – são extremamente embasadas e deixam claro o lado feio desse nicho, o lado que todo mundo finge que não vê.

Nic: Como você lida com o preconceito?
Natália: Eu lido com o preconceito da única forma que dá: com resistência. Talvez por ter formação de professora, acredito MUITO no poder da didática e da paciência na hora de argumentar politicamente. Uma mensagem passada de forma bem explicada e sem agressividade tem mais chances de ser bem recebida. Só que por mais que a gente tente, não são todas as pessoas que estão abertas ao diálogo. Acho que ninguém deve se desgastar discutindo com preconceituoso que não quer abrir mão do preconceito, porque na maioria dos casos essas pessoas só querem “treta” mesmo. Mas tem gente que eu vejo que tem discursos preconceituosos mais por socialização do que por má intenção, e com essas pessoas acho que dá pra investir em conversas que tentem explicar os pormenores das atitudes preconceituosas.

Quanto às atitudes de preconceito diretamente comigo, confesso que felizmente não acontece com frequência, e quando acontece é algo vindo de desconhecidos. Quem tem qualquer contato comigo (por menor que seja) sabe que preconceito pra cima de mim não vai ser recebido em silêncio. As vezes rola de eu estar comendo em público, andando na rua e me falarem algo ou olharem de um jeito esquisito. Não compro briga, normalmente só encaro a pessoa, deixando ciente de que ouvi a besteira que ela disse e não tenho medo de olhar na cara dela pra deixar isso claro. Se é algo falado eu normalmente rebato com comentários irônicos ou xingamento mesmo – mas esse último só em casos muitos extremos, como quando homens ridículos me gritam absurdos da janelas de carros em movimento.

No geral, acho que o primeiro passo pra enfrentar o preconceito é mostrar pra pessoa preconceituosa que o que ela fez é reconhecido como algo ruim. Não necessariamente acho que precisamos sair discutindo e comprando briga com todo mundo, muitas vezes um olhar sério e silencioso ou a falta de riso em frente à uma piada preconceituosa já fazem a pessoa que fala besteira entender que o preconceito dela não passou batido.

“O primeiro passo pra enfrentar o preconceito é mostrar pra pessoa preconceituosa que o que ela fez é reconhecido como algo ruim”

Nic: Os ataques em massa contra mulheres gordas estão acontecendo com cada vez mais frequência nas redes sociais e com consequências gravíssimas. Que tipo de medidas você acha que poderíamos tomar para que essa postura mude no futuro?
Natália: Em primeiro lugar, acho que precisa haver uma mudança séria nas diretrizes das redes sociais, principalmente do Facebook. Hoje nós temos fotos da Tess Holiday sendo excluídas da plataforma por “irem contra as diretrizes de saúde” do site, enquanto mulheres gordas são atacadas e nada é feito sobre isso. Acho que as medidas de vigilância e punição a todos os indivíduos que fazem esse tipo de coisa precisam ser endurecidas, e que as denúncias precisam ser levadas a sério. Precisamos poder denunciar esse tipo de ação e saber que os responsáveis terão seus perfis bloqueados ou até excluídos, e precisamos de uma ferramenta que permita o “congelamento” de posts que estão sob ataque, de forma que não se possa receber mais violência e que aqueles que comentaram não possam apagar o que disseram. Facilitaria na hora de identificar todas as pessoas que cometem os ataques. Além disso, acho também que deveria haver a possibilidade de expulsão permanente dos perfis que incentivam os ataques. Por exemplo, no caso da Alexandra Gurgel e do Danilo Gentilli, em que ele incentivou claramente que seus fãs atacassem ela, acho que o mínimo que deveria ter acontecido é ele ter perdido os perfis em todas as redes através das quais incentivou a violência. Tanto faz se vindo dos próprios sites ou por decreto judicial, esse tipo de atitude PRECISA ser punida pra coibir os futuros incentivadores. Falando juridicamente, acho que precisa haver orientação e auxílio legal às mulheres que passam por ataques virtuais e querem seguir com denuncias pra punir os responsáveis. Mesmo que a lei brasileira não tome o assunto com seriedade, quanto mais denpuncias existirem, mais pressionado será o Estado a endurecer as leis sobre violência digital.

Olhando por outro ângulo, todas nós podemos fazer a nossa parte pra ajudar as mulheres gordas que são atacadas, e acho que podemos fazer isso de 3 formas: não discutindo com os agressores, ajudando a denunciar as agressões e dando força pra mulher que tá passando por isso. É comprovado que as pessoas (ou melhor, os meninos e homens) que fazem isso só estão lá pra ver o circo pegar fogo, então ficar rebatendo só dá mais gás pra eles continuarem agredindo. Por outro lado, mesmo que os sites sejam muito ineficazes na hora de fiscalizar esse tipo de coisa, não dá pra negar que várias denuncias feitas em cima de um post ou comentário violento não passam despercebidas pelos moderadores do Facebook, então quanto maior for o número de pessoas denunciando os agressores, mais chance de eles terem seus comentários excluídos. E por fim, o básico: As mulheres que passam por isso precisam saber que não estão sozinhas. Não basta um “linda, força aí”, precisamos mostrar que elas podem contar conosco pra denunciar e não aumentar a dor de cabeça discutindo com agressor. Poderia ser qualquer uma de nós ali sendo agredida, e com certeza quando mais apoio a pessoa recebe, mais ela se sente forte pra lidar com a situação.

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Ajude a Natália a concretizar seu sonho de estudar! Ela foi aprovada para um semestre na State University of New York, nos Estados Unidos, e agora precisa de ajuda pra bancar passagem, visto, seguro e teste de suficiência em inglês. Bora fazer uma parceira de ativismo aprofundar seus estudos e brilhar por aí? Colabore com a Vakinha

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